domingo, 25 de março de 2012

Histórias de Amor



                Rubem Fonseca me foi apresentado pela minha irmã mais nova quando a mesma ainda estava no colégio. Peguei o livro dele por acaso hoje, para ler alguma coisa no banheiro enquanto me arrumava, fazia xixi, escovava os dentes, e tudo o mais que se faz no banheiro. Mas claro, não é todo mundo que leva livros para o banheiro só porque não suporta a ideia, de não ter ideias enquanto “perde” tempo se arrumando.
- “Histórias de Amor”! Que lindo! Posso ler depois que você terminar?

- Acho que essas não são as histórias de amor que você espera ler, ela respondeu sarcasticamente.

Não eram mesmo.

                Fico pensando no humor dela. Sempre teve um humor fino. Uma interpretação apurada das coisas, da vida, e do amor.

                Ela é minha irmã, mas é também minha filha. Em uma das minhas sessões de análise, depois de tanto chamá-la pelo nome da minha própria filha, explico ao analista:

- É que por termos uma diferença de idade, eu ajudei a cuidar dela quando ainda era um bebê, e as duas são tão parecidas! A pele branquinha, os olhos azuis...

Ao que ele responde sem sequer mover um músculo, como quem constata que vai chover em um dia qualquer:

- Eu sei, ela é tua filha.

                Ninguém poderia imaginar que aquele bebê prematuro, ao qual foram dispensados tantos cuidados se tornaria enfermeira.  Eu a levei a faculdade no primeiro dia de aula. E teria ficado lá, não fosse, ela mesma, me incentivar que ficaria bem, que eu não me preocupasse, eu poderia ir embora sossegada, ela ficaria bem.

                Não só tornou-se enfermeira como se meteu no projeto Rondon, ao que eu ouvia com orgulho e repetia prá todo mundo suas histórias quando ela voltava de alguma aldeia pelo interior do Paraná.

                Sempre gostamos do mesmo tipo de música .Íamos aos shows do Chico, do Milton, Caetano, sempre na primeira fila! O autógrafo do Milton, dividimos por anos! Cada semana uma podia ficar com ele, chegamos a plastificá-lo. Não sei mais onde está, devo ter jogado fora, em alguma limpeza por motivo de alguma mudança, nem lembro. Chegamos a ir a passeatas, éramos militantes políticas.Éramos jovens e portanto cheias de ideais.

                Antes mesmo do final do último ano da faculdade, ela passou no Projeto Saúde da Família do governo, um projeto do qual se pagava bem, justamente para atrair os recém-formados para cidades aonde nenhum profissional já estabelecido iria, por nenhum dinheiro do mundo! Mas ela foi, sozinha. Uma menina que foi sempre tão protegida, a caçula, tão magrinha! Tão fraquinha...prematura... Foi para uma cidade no fim do mundo, e lembro até hoje que ela não vacilou nem por um instante. No dia que fomos levá-la para ajudar na sua mudança, ainda brinquei que aquele não era “aonde o diabo perdeu as botas” porque “o diabo nem tinha passado por lá”. Ela sempre de humor afiado, não riu. Ao contrário, ficou brava e fechou a cara e não disse palavra.

                 Os finais de semana que voltava prá casa, eram sempre recheados de histórias surreais, quase sempre dramáticas, tristes, de uma realidade do Brasil que poucos sequer sonharão que existe. Ela sempre contava com detalhes, ora com risos, ora com tristeza , dividindo conosco seus medos e alegrias, mas sempre com coragem, determinação de vida, de escolha, de destino.

                Hoje ao pegar o livro que surrupiei da estante da casa dos meus pais em uma visita de final de semana, não pude deixar de fazer um paralelo entre o livro e a vida dela.

Histórias de Amor.

- Acho que você não irá gostar de lê-lo.

Ela dizia mal disfarçando um sorriso irônico.

- Essas não são as histórias de amor que você pensa que irá encontrar.

Realmente filha, as histórias de amor de verdade, nem sempre são como imaginamos. Hoje eu também sei disso.




BOLO DE ABACAXI
  • 1 xícara (chá) de açúcar
  • 1 xícara (chá) de farinha de trigo
  • ½ xícara (chá) de leite
  • 2 ovos separados
  • 2 colheres (chá) de fermento em pó
  • Fatias de abacaxi
  • Creme chantilly (opcional)
  • Açúcar mascavo para untar
  • Manteiga para untar
 Modo de Fazer
1.       Separe os ovos. Bata as gemas com o açúcar até ficarem bem claras e espumosas, junte o leite e bata mais um pouco. Bata as claras em neve e adicione delicadamente à mistura de gemas.
2.       Acrescente a farinha de trigo peneirada com o fermento e misture tudo muito bem, batendo bastante.
3.       Forre a forma com açúcar mascavo, salpique com pedacinhos de manteiga, arrume no fundo as fatias de abacaxi e despeje a massa sobre tudo. Leve ao forno em temperatura média.
4.       Quando o bolo estiver assado, vire-o sobre um prato, de modo que as fatias de abacaxi fiquem para cima, e cubra-a com creme chantilly.